Wednesday, January 10, 2007

Obesidade Mental


Os trabalhos que me têm sido pedidos no CEEPLE têm-me feito a tropeçar em textos que falam sobre determinados problemas e realidades da nossa sociedade. É o caso de uns dos trabalhos que tenho estado a realizar... O trabalho ainda está na fase de produção, mas posso dizer-vos já que tem como ponto de partida a audição da música GTI (Gentel, Tall, Intelligent) dos Clã, mas que terá como ponto alto, chamemos-lhe assim, uma discussão cuja base é uma parte da crónica de João Cesar das Neves que se segue. Deixo-a aqui não para fazer publicidade ao meu trabalho (porque esse já tem o seu cantinho garantido), mas para introduzir o termo obesidade mental e para vos levar a reflectir um pouco sobre o seu significado, as suas causas e as suas consequências.

O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»
O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.
Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: «O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.» O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.
«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.T
odos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto.»
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. «Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.»


(publicado no Diário de Notícias de 22 de Março de 2004)
Obrigada, Filipe, pela ajuda que me deste a encontrar este texto, sem o qual a minha aula não faria sentido.

4 comments:

Anonymous said...

e exactamente por tu existires k ha pessoas c/o eu k evitam cair na decandência... k seria eu sem ti!??? lol :P adorei os textos!!!! beixinhux pipas

Jorge Moreira said...

Muito importante este texto.
Tenho também um amigo que fez uma excelente abordagem a este tema e autor.
Continua!
Beijinhos,

Anonymous said...

Filipe says :
de nada ;) boa imagem a ilustrar by the way. Alias, aconselho -t a compra dos livros ...anualmente edita pela, Ed.Verbo,a s colectaneas de cronicas chamadas: "nao há almoços grátis" !

Pedro Melo said...

Belo trabalho/reflexão! Sem duvida um dos problemas da sociedade da informação situa-se na necessidade de filtrar e adequar informação para diminuir redundancia e "lixo" criado por (des)informação!